sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Quem não tem carro..

Pedrinho sai todos os dias de casa às seis da manhã, vai para o ponto onde pega seu coletivo rumo ao colégio no centro da cidade, ele mora no subúrbio rodoviário de Salvador. Seu ônibus passa todos os dias às seis e meia da manhã, isso quando não atrasa, não está chovendo ou simplesmente resolve não passar.

Vida difícil a de quem depende desses transportes urbanos, pensa Pedrinho todas as manhãs. Ele saí do colégio diretamente para o curso de inglês que é praticamente do outro lado da cidade. E lá vai Pedrinho esperar outro ônibus. E lá vai ele de novo pra sua batalha. Porque quando esse ônibus não demora meia hora, passa lotado.

E a pior hora é a volta para casa depois de um dia cheio, o povo todo estressado, cansado, muitas vezes em pé, porque não tem mais onde sentar. Numa dessas voltas pra casa, surge uma briga, uma das muitas que ele presencia nos vários transportes que pega. Uma mulher entra de cara feia pela situação do ônibus, dá cinquenta reais ao cobrador e não quer aceitar, pois fala que vai ficar sem troco. A mulher arma o maior barraco: " Eu uma cidadã, que paga meus impostos em dia, já vou pegar esse õnibus lotado e você vem reclamar que não tem troco? Eu tenho cara de ótaria? Devo ter! Só pode! Um ônibus cheio desses. A pessoa não tem o direito nem de sentar depois de um dia cheio, sem falar no tempo que eu tô nesse ponto. É uma falta de respeito. Isso é culpa do povo que não vai à luta, que não reivindica seus direitos. Estou cansada. você vai ter que me deixar passar!"

A zona está formada. E o povo vibra. Bate palmas. Cada um dá sua opinião, e sempre falando mal dos transportes, da falta de respito com os cidadãos, dos políticos. E Pedrinho apenas diz: "É tia quem não carro pega buzu lotado!"

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A menina que roubava livros


Quando vi esse livro na prateleira de uma livraria, uma frase na capa me chamou atenção “Quando a morte conta uma história você deve parar para ler”. Que mórbido, pensei. Mas, felizmente fui vencida pela curiosidade e comprei o livro.
A morte do livro de Markus Zusak, conta de maneira sutil e com uma bela pitada de humor a história de Liesel Meminger, uma garota que encontrou com a narradora diversas vezes em sua vida e foi curiosamente observada pela acolhedora de almas. Toda a narração se passa numa época de bombardeios, em plena Alemanha nazista da 2ª Guerra mundial.
O livro retrata de maneira bastante original a vida de pessoas que perdem suas esperanças em meio a sofrimentos e horrores, e ainda assim conseguem preservar valores como respeito, amor, solidariedade. Uma história diferente que te conta boa parte do fim no meio da leitura, e mesmo assim você ainda deseja continuar a ler.
Os personagens são fenomenais. Uma menina fascinada pela magia das letras. Um judeu com imaginação tão brilhante a ponto de se transferir diversas vezes para um boxe para lutar com o Hitler. Um garoto alemão que imagina ser Jesse Owens. Um acordeonista que dribla a morte algumas vezes, entre outros.
Com um final surpreendentemente emocionante, A menina que roubava livros, consegue misturar sentimentos. É quebrada a tensão em relação à morte e ela é associada diversas vezes a brutalidade e beleza. Markus Suzak nos lembra a importância das palavras, principalmente numa época em que elas conseguiram levar as pessoas a acreditar, assim como levá-las a tomar atitudes.
Tragicamente lindo, é assim que eu me refiro a esse livro. Uma descrição sensível e detalhada de uma história cheia de emoções. E no fim uma frase que me recordarei sempre “Os seres humanos me assombram”.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Mostra "Sertão contemporâneo"


A imagem do sertão sempre despertou curiosidade. Muitos valorizam esse cenário na crendice de um lugar místico, cheio de histórias contadas e idealizadas. A exposição “Sertão contemporâneo” traz um misto de tudo isso, numa magnífica idéia de sertão. A exposição apresenta seis diários e seis viagens, representadas em desenhos, pinturas, objetos e relatos trazidos pelos viajantes.
Na ordem, a primeira exposição é da artista Brígida Baltar, que tinha uma idéia do sertão marrom, seco. Brígida viajou em busca de seca e aridez e encontrou umidade e uma paisagem verdejante no Vale do Cariri. O tema da sua exposição tornou-se “De repente é verde o sertão”. Ela expõe a terra em bloco, a terra molhada com a chuva transforma-se em argila, que ela utiliza para construir tijolos.
Delson Uchôa percorre o sertão de Alagoas e descobre lugares por onde passou o bando do cangaceiro Lampião e mostra peculiaridades desse grupo, como o bordado, como confeccionavam suas vestes e bolsas. Observa o rio São Francisco na divisa entre Bahia e Alagoas, e se interessa pela eletricidade da usina, pelos fios, pela luz. Produz, assim, um bordado que se assemelha a uma pintura, em renda com fios de eletricidade, fazendo uma referencia as cores da natureza bruta dos locais por onde passou e uma homenagem a Lampião.
Já Rosângela Rennó, pesquisou semelhanças do sertão em Minas Gerais e o traz de diversas formas. A artista pede emprestado a fotógrafos imagens e depoimentos sobre o redemoinho sertanejo. Projeta através das imagens a experiência do outro, a ligação entre terra e céu, a magia em torno de um fenômeno natural. Interpreta Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Reproduz as crendices do amor como algo impossível e maligno, baseada na obra.
Para o artista Efrain de Almeida, o sertão está nos olhos de quem o vê. Ele nos traz um diário visual. Encontra a igreja de Santa Luzia, virgem padroeira de Mossoró. A partir, desse encontro reproduz desenhos de olhos. Depara-se com um sertanejo e explora o olhar dele, como a visão do sertanejo sobre seu próprio ambiente.
José Rufino encontrou a seca, lugares abandonados. Retrata também a morte do sertão. Cria esqueletos de gesso, nos apresentas objetos, como partes de casas queimadas, madeiras. Aborda bagagens trazidas pelo ser humano, a degradação ambiental e a organização da população ao fazer uma fogueira.

Por último, Luiz Zerbini, em particular a exposição mais interessante. Ele nos mostra a contradição entre água e sertão. Encontra na favela do Rio de Janeiro as cores do sertão e reflete essas imagens na água. Traz elementos, como madeiras queimadas, e expõe dentro de recipientes com água, faz algumas misturas com azeite de dendê e de soja para obter a cor do pôr do sol, e da terra. Remete esses elementos ao surgimento das favelas, quando retirantes nordestinos acamparam em lugares onde encontraram a favela, uma árvore de Canudos.
A exposição é um verdadeiro presente para quem quer conhecer outras culturas e se interessa por paisagens e relatos de viagens, cada lugar visto a partir de seis olhares diferentes ganham formas maravilhosas. A grandiosidade desse trabalho nos faz crer que a natureza tem muitas coisas a nos dizer, e nos revela a perfeição do encontro entre a poética dos artistas com as paisagens e histórias sertanejas.

Visitação: 9 de sembro a 11 de outubro de 2009, Terça a domingo das 9h às 18h
Local: CAIXA cultural Salvador
Rua Carlos Gomes, 57 Centro
Entrada Franca

domingo, 20 de setembro de 2009

Ser baiano é ser preguiçoso?

A imagem do Brasil em relação aos baianos é deturpada e preconceituosa, as pessoas acreditam que na Bahia é só festa, que baiano é preguiçoso, vai à praia todos os dias e que a música daqui é ruim. Com isso, o estado sofre muita discriminação, é alvo de chacota e seus moradores são taxados com vários apelidos e mal vistos em vários lugares aonde chegam.Afinal, a Bahia vive em clima de “festa eterna”.
O que muita gente não sabe é que são nesses períodos de festa que mais a população trabalha. Como uma boa parte mão - de- obra baiana é de trabalho informal, as festas são uma oportunidade de trabalho. Aqui, quem se diverte muito mais é o turista.
Não se sabe como essa imagem da preguiça baiana surgiu e se consolidou. Mas, é fato que essa visão tem um teor racista. É também bastante notável que muita gente se aproveita disso, a indústria do turismo, por exemplo, que incorporou a imagem para vender uma idéia de lazer permanente.Claro que muitos baianos também contribuem para esses perfis construídos historicamente e reforçados pela mídia. Até por que acreditam ser engraçado esses discursos.
Está na hora de mudar essa visão preconceituosa de que baiano é sinônimo de preguiça, sombra e água fresca. Baiano é um povo trabalhador, é claro que existe sim, gente que não faz nada, mas isso é normal de qualquer região. A Bahia possui uma economia que se destaca no nordeste, boas universidades e muito mais. E todos nós sabemos o quanto trabalhamos.

sábado, 19 de setembro de 2009

Vale cultura

O vale cultura é um bom incentivo do governo aos milhões de brasileiros com baixa renda que não tem participação nos espaços culturais do país. Esse vale será oferecido pelas empresas aos seus empregados e valerá para compra de livros, discos, entrada em cinema, teatro, museus, shows e até aluguel de filmes, mas tudo isso só em lugares credenciados.
A participação das empresas será optativa, o que é uma pena, pois, elas podem não ver vantagem no projeto e não aderir. As que optarem pelo vale, diminuirão em 1% sua contribuição fiscal e estarão de certa forma aceitando ajudar seus empregados.
A preocupação do governo demonstra que estamos evoluindo de alguma maneira, apesar do valor ser muito pequeno, o vale cultura mostra que está havendo um interesse na inserção de pessoas com um menor poder aquisitivo na cultura e quem sabe até poderemos pensar na diminuição das contradições socioculturais existentes no Brasil.