sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Mostra "Sertão contemporâneo"


A imagem do sertão sempre despertou curiosidade. Muitos valorizam esse cenário na crendice de um lugar místico, cheio de histórias contadas e idealizadas. A exposição “Sertão contemporâneo” traz um misto de tudo isso, numa magnífica idéia de sertão. A exposição apresenta seis diários e seis viagens, representadas em desenhos, pinturas, objetos e relatos trazidos pelos viajantes.
Na ordem, a primeira exposição é da artista Brígida Baltar, que tinha uma idéia do sertão marrom, seco. Brígida viajou em busca de seca e aridez e encontrou umidade e uma paisagem verdejante no Vale do Cariri. O tema da sua exposição tornou-se “De repente é verde o sertão”. Ela expõe a terra em bloco, a terra molhada com a chuva transforma-se em argila, que ela utiliza para construir tijolos.
Delson Uchôa percorre o sertão de Alagoas e descobre lugares por onde passou o bando do cangaceiro Lampião e mostra peculiaridades desse grupo, como o bordado, como confeccionavam suas vestes e bolsas. Observa o rio São Francisco na divisa entre Bahia e Alagoas, e se interessa pela eletricidade da usina, pelos fios, pela luz. Produz, assim, um bordado que se assemelha a uma pintura, em renda com fios de eletricidade, fazendo uma referencia as cores da natureza bruta dos locais por onde passou e uma homenagem a Lampião.
Já Rosângela Rennó, pesquisou semelhanças do sertão em Minas Gerais e o traz de diversas formas. A artista pede emprestado a fotógrafos imagens e depoimentos sobre o redemoinho sertanejo. Projeta através das imagens a experiência do outro, a ligação entre terra e céu, a magia em torno de um fenômeno natural. Interpreta Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Reproduz as crendices do amor como algo impossível e maligno, baseada na obra.
Para o artista Efrain de Almeida, o sertão está nos olhos de quem o vê. Ele nos traz um diário visual. Encontra a igreja de Santa Luzia, virgem padroeira de Mossoró. A partir, desse encontro reproduz desenhos de olhos. Depara-se com um sertanejo e explora o olhar dele, como a visão do sertanejo sobre seu próprio ambiente.
José Rufino encontrou a seca, lugares abandonados. Retrata também a morte do sertão. Cria esqueletos de gesso, nos apresentas objetos, como partes de casas queimadas, madeiras. Aborda bagagens trazidas pelo ser humano, a degradação ambiental e a organização da população ao fazer uma fogueira.

Por último, Luiz Zerbini, em particular a exposição mais interessante. Ele nos mostra a contradição entre água e sertão. Encontra na favela do Rio de Janeiro as cores do sertão e reflete essas imagens na água. Traz elementos, como madeiras queimadas, e expõe dentro de recipientes com água, faz algumas misturas com azeite de dendê e de soja para obter a cor do pôr do sol, e da terra. Remete esses elementos ao surgimento das favelas, quando retirantes nordestinos acamparam em lugares onde encontraram a favela, uma árvore de Canudos.
A exposição é um verdadeiro presente para quem quer conhecer outras culturas e se interessa por paisagens e relatos de viagens, cada lugar visto a partir de seis olhares diferentes ganham formas maravilhosas. A grandiosidade desse trabalho nos faz crer que a natureza tem muitas coisas a nos dizer, e nos revela a perfeição do encontro entre a poética dos artistas com as paisagens e histórias sertanejas.

Visitação: 9 de sembro a 11 de outubro de 2009, Terça a domingo das 9h às 18h
Local: CAIXA cultural Salvador
Rua Carlos Gomes, 57 Centro
Entrada Franca

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